<i>… E no entanto move-se (*)</i>

Pedro Guerreiro

É o caminho da resistência que defende os interesses do povo e do País

Quando se anuncia a possibilidade de um «acordo» sobre a Grécia no Conselho Europeu que hoje se inicia, deve ter-se presente que, durante os últimos cinco meses, a União Europeia e o FMI afrontaram a vontade de mudança política e a soberania do povo grego, conspirando para assegurar o prosseguimento da política de intensificação da exploração e empobrecimento na Grécia e, assim, salvaguardar os interesses e o domínio dos grandes grupos económicos e financeiros e das grandes potências da UE.

Continuar a impor à Grécia os seus ditames, tornando-a numa «lição» para outros povos, é desígnio da UE e do FMI.

Manobrando e tirando partido de incoerências, contradições e hesitações, UE e FMI foram acomodando o Governo grego – cedência após cedência – às ditas regras, compromissos e obrigações, isto é, à política que, no quadro da UE e do euro, levou a Grécia ao desastre económico e social, a uma enorme dívida pública, à dependência, a uma situação em que se vê despojada da sua soberania monetária, orçamental e económica.

Através da ingerência, da pressão e da ameaça, UE e FMI procuraram impor a continuação e, se possível, o agravamento da política dos «memorandos» – ou seja, do gigantesco saque ao povo grego, sustentado na incomensurável dívida pública, nas privatizações, na intensificação da exploração e empobrecimento –, utilizando para tal os instrumentos, mecanismos e orientações da UE e da sua União Económica e Monetária (euro), que possibilitam essa mesma imposição.

O que a atitude da UE e do FMI demonstra é que a solução dos graves problemas económicos e sociais que afectam não só a Grécia, mas também outros países na UE, exige a ruptura com os condicionalismos e políticas da integração capitalista europeia que, assegurando o domínio político, impõem o domínio económico das grandes potências (a começar pela Alemanha) e seus grandes grupos económicos e financeiros.

Ou seja, o que o exemplo da Grécia realmente demonstra é que, independentemente de todas as dificuldades, é o caminho da resistência, e não o da submissão e subordinação, que defende os interesses do povo e do País. A defesa dos interesses e a concretização da vontade dos trabalhadores e do povo português passa pela afirmação e defesa da soberania e da independência nacional.

A política de direita realizada pelo PS, PSD e CDS tem no condicionamento da soberania e dependência externa um dos seus suportes – nomeadamente, no euro e nas políticas da União Europeia. A ruptura com essa política pressupõe, assim, a ruptura com esse condicionamento e dependência. Consequentemente, a alternativa patriótica e de esquerda pela qual o PCP luta, exige o pleno exercício da soberania e a defesa da independência nacional, articulada com a cooperação no plano europeu e internacional. Para o PCP, a dimensão patriótica é indissociável e integra os múltiplos eixos e orientações da política alternativa de que os trabalhadores, o povo e Portugal necessitam.

Ameaçando com um falso «caos» e subordinando a soberania à sua ordem supranacional anti-democrática, UE e FMI, Governo PSD/CDS e PS, todos em coro, procuram fazer crer que não há alternativa à sua criminosa política de exploração e empobrecimento.

No entanto, é o povo português que, em última instância, determina o seu futuro, consciente e confiante de que é pela sua luta que romperá com a política de direita e de tutela neocolonial que lhe é imposta e que trilhará o caminho que, dando resolução aos seus problemas, concretizará a sua legítima aspiração a uma vida melhor.

(*) Palavras atribuídas a Galileu quando no julgamento perante a Inquisição




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